Aos pés da santa Cruz
Aprendamos a meditar muitas vezes na dor de Maria, e
isso nos dará força para sermos humildes e corajosos diante da dor! Jesus sofreu mais do que qualquer outro ser humano pode sofrer; não
só pelos tormentos, mas pela qualidade da sua natureza que sobressai entre
todas pela compreensão, sensibilidade, delicadeza, horror pelo mal, amor à
verdade, ao bem, à justiça. E ninguém,
depois de Jesus, sofreu mais que Maria.
Ela
teria sofrido menos se pudesse morrer com seu Filho; mas para que seu martírio
fosse completo, foi preciso que visse Jesus agonizar crucificado, levantado por
três longas horas entre o céu e a terra. Foi preciso que ela o visse gemer,
morrer… e ela vivesse.
S.
Bernardo disse que “Ela é mártir e mais que mártir”. Se ela não morreu de dor
foi porque uma força divina a sustentou viva. Jamais um coração humano poderia
suportar dor tão grande e continuar vivo.
No
dia da Apresentação do Menino Jesus no Templo, ela ofereceu a Deus o
“sacrifício da manhã”, no Calvário ofereceu o “sacrifício da tarde”, sacrifício
que se renovará todos os dias sobre o altar até o Senhor voltar na sua glória,
para aplicar a cada alma as graças necessárias para a salvação merecidas por
ele sobre a cruz.
Maria
não é sacerdote no sentido ordinário da palavra, mas é vítima com o seu Filho,
e, como disse João Paulo II: “foi a que mais cooperou com a obra da Redenção”.
Sua cooperação não aumenta o valor nem a eficácia do sacrifício de Jesus, cujos
méritos infinitos são mais que suficientes para o resgate da humanidade das
mãos do demônio; mas traz a parte de sacrifício e de reparação que a humanidade
deve acrescentar como prova de boa vontade; não podendo salvar-se a si mesma,
deve “completar na carne a paixão de Cristo no seu corpo que é a Igreja”.
Por
vontade de Deus, cada cristão deve ser
redentor. É Jesus quem salva o homem, mas com a condição de que ao lado da
reparação infinita o homem coloque a sua pequena reparação pessoal, fruto de
seu arrependimento e do seu amor a Deus. Ninguém
se santifica sem sofrer; mas não procuremos o sofrimento, basta apenas
aceitá-lo na fé quando Deus permitir e quando ele vier; saibamos suportá-lo de
maneira digna e meritória, silenciosamente, como Maria, certo de que ele ajudará
a nossa salvação e poderá ajudar a salvar outros. O sofrimento adquire o valor
que lhe dá quem o sofre. Por isso, só o cristão sabe sofrer.
Além
de sua fortaleza sobrenatural, Maria mostra sua grande humildade pela qual
venceu toda a soberba. Nos momentos de glória de Jesus esteve escondida… Mas
agora, na hora de sua Paixão, ela aparece e se faz presente aos pés da cruz,
quando todos fogem. Que lição para nós, que gostamos de ser exaltados! O
orgulhoso gosta de aparecer na hora dos aplausos, mas desaparece na hora da
dor.
No
Calvário ela vê seu Filho ser crucificado friamente, levantado entre o céu e a
terra por três longas e cruéis horas, rezando e gemendo pela salvação de cada
um de nós. A espada da dor foi até o fundo da alma da Mãe. Maria ouvia as ofensas
a Seu divino Filho, calada, de pé, oferecendo a Deus o seu coração penetrado
pela espada de Simeão. “Um dos malfeitores, ali crucificados, blasfemava contra
Ele: Se és o Cristo, salva-te a ti mesmo e salva-nos a nós!” (Lc 23,39-42).
No
silêncio e na prece a Virgem santa oferecia a Deus todas as blasfêmias e graças
daquela hora que seriam eternas. Ao menos o bom soldado consola um pouco o seu
coração ferido. E terá a sua grande recompensa. Pela sua conversão certamente
ela também rezou.
O
Apóstolo São João também estava aos pés da Cruz, o único Apóstolo presente, representava todos nós discípulos de Jesus.
Neste momento Jesus consagrou Maria Mãe espiritual dos cristãos, e São João
representava todos os homens e mulheres, de todos os lugares e de todos os
tempos, que a partir daquele momento ganharam Maria como sua Mãe espiritual.
Maria não teve outros filhos naturais. Permaneceu
sempre virgem, como era do conhecimento universal dos primeiros cristãos
até os nossos dias. Se Jesus tivesse irmãos carnais, não teria entregue sua Mãe
aos cuidados de João Evangelista. Seus próprios irmãos naturais cuidariam dela,
como era dever na época e ainda hoje. E São João escreveu o seguinte: “E desta
hora em diante o discípulo a levou para a sua casa” (Jo 19, 27).
Ali,
aos pés da Cruz gloriosa, ela recebeu de Jesus a maternidade espiritual dos
filhos da Igreja. “Mulher, eis aí o teu Filho”… “Filho, eis aí tua Mãe” (Jo
19,26). Tendo se aniquilado pela nossa salvação, já prestes a morrer, Jesus
ainda nos quis deixar o que Ele tinha de mais precioso nesta vida, a sua querida Mãe. E como Jesus
confiava nela! A tal ponto de querê-la para nossa Mãe também.
Sabemos
o quanto sofre uma criança que perdeu a sua Mãe, ou que nunca a teve do seu
lado. São muitos os jovens e adultos frustrados, revoltados e magoados com a
vida e com os outros, porque, muitas vezes não tiveram o carinho e a educação
da mãe. Muitos estão trilhando hoje o caminho do vício, das drogas, do crime,
da violência, exatamente porque não tiveram uma mãe para amá-los e educá-los
como homens retos e felizes. Assim também ocorre na vida espiritual. Muitos
filhos e filhas de Deus estão vivendo como verdadeiros filhos pródigos, longe
da boa casa do Pai, comendo “lavagens” pela vida, porque não conheceram ou
rejeitaram a Mãe do céu.
O
Papa Pio XII, na Encíclica “Mediator Dei”, de 20/11/47, disse: “Veneráveis
irmãos, não permitais que se desleixe, especialmente entre a juventude, o culto
da Virgem Mãe de Deus, que, como dizem os santos, é sinal de predestinação.”
São
Bernardo disse que: “O que os cravos eram para o corpo de Jesus, para o coração
de Maria era o amor… No mesmo tempo que Jesus sacrificava o corpo, a Mãe
imolava a alma”.
O
único alívio para a Mãe e para o Filho era saber que das suas dores resultava para nós a vida eterna. Meditando esta dor
tremenda de Maria encontramos consolo e força para nossas almas contra mil
tentações e dificuldades, e aprenderemos a ser fortes em todos os combates de
nossa vida.
Olhemos
para Maria aos pés da Cruz assistindo a morte de Jesus, com a alma e o coração
transpassados com as mais cruéis dores. Certamente o que confortou a Virgem
Santa naquela hora amarga foi fazer a
vontade de Deus; este foi o seu conforto; saber que o Céu foi aberto para
todos os filhos foi o seu consolo. Só se
vence a dor quando se sofre por uma grande causa. Não só Jesus no Calvário
foi provado com o abandono de toda consolação, mas também a sua Mãe. Sofrer em
união com os sofrimentos de Jesus nos dá consolo; mesmo que se sofra por ter
feito o bem neste mundo, recebendo desprezos e humilhações. Aprendamos a
meditar muitas vezes nesta dor de Maria, e isso nos dará força para sermos
humildes e corajosos diante da dor.
P.s:
Texto belíssimo tirado do artigo Aos pés da santa cruz
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