Chega de cobrir férias no amor

Tem alguns momentos da vida em que questionamos
o quão ela pode ser injusta. Por exemplo, quando se é selecionado para uma vaga
de trabalho. Ao chegar, descobrimos que é uma vaga temporária, sem qualquer
expectativa de possível contratação. Querem apenas que você cubra férias de
outro alguém. Passe um período pré-determinado e saia, sem deixar muitos
vestígios. Com a vida amorosa, a coisa não parece ser diferente.
Em alguns momentos, concorremos à vagas que não
são efetivas. Ocupamos espaços que já estão ocupados previamente. Cobrimos
férias de amores passados, suprindo faltas e carências. Oferecemos tudo que a
função exige: carinho, intimidade, confiança e respeito. No entanto, a
experiência tem data marcada. Chega um momento em que não poderemos ser
efetivados. Será preciso partir.
Seria simples se a função não correspondesse ao
amor. Partiríamos sem criar vínculos. Contudo, a realidade não condiz com a
teoria. Se, no trabalho, já não é fácil ocupar férias sem criar raízes, no
amor, isso é praticamente impossível. Mesmo sabendo que estamos apenas a
cumprir férias, a razão não dá conta de conter o envolvimento. Oferecemos amor
e carinho e exigimos reciprocidade. Queremos ganhar a vaga a todo custo, ficar
e mostrar que merecemos.
No entanto, amor não depende de merecimento.
Ninguém é capaz de convencer o outro a nos escolher. O sentimento vai além de
razões práticas, como “escolho você pela competência”. É impossível mensurar o
que faz as pessoas escolherem uma coisa ou outra. Meros cobridores de férias
poderão ocupar lugares que jamais alguém ocupou. Ou não. Porém, isso não
depende apenas de nós. Não há como convencer o outro a efetivá-lo em uma
relação.
A escolha que nos cabe é identificar até onde
conseguimos “bancar”. Se aguentarmos estar apenas no lugar de cobrir férias,
que assim seja. A questão é que, na maioria das vezes, cansa estar apenas de
passagem. Cansa oferecer carinho somente para cobrir carências. Cansa se apegar
e ter que partir, pois não há espaço para que fique. Cansa aceitar quem já tem
prazo para nos “despedir”.
Por isso, ando a recusar propostas para cobrir
férias. Quando, por acaso, caio em uma delas, exijo a certeza de que não
estarei apenas de passagem. Talvez seja a idade, ou o cansaço diante de tantas
decepções, mas prefiro a coerência com os meus próprios sentimentos. Escolho os
vínculos, mesmo que eles me façam perder oportunidades. Busco a efetivação e,
para isso, é preciso que encontre vagas abertas para tal.
Por aqui, há vagas.
P.s: Texto top tirado do blog http://semtravasnalingua.com.br
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