Aqui só é permitido sentir

Nós temos a
terrível mania de querer colocar em palavras as coisas que sentimos. Tentamos
traduzir uma sensação, mas é quase impossível certas vezes. Como definir uma
coisa que simplesmente bate? Assim, simples assim. E, mesmo com toda a dificuldade
em fazê-lo, insistimos na questão. Acho que essa é uma necessidade do ser
humano em querer entender e rotular o que nasce no peito, mas sem perceber o
quão absurdo isso pode soar. Certas coisas não podem ser ditas, apenas
sentidas.
Um olhar
demorado, por exemplo, pode ser o estopim para algo muito maior. Olhar
daqueles, do tipo que parece ultrapassar qualquer barreira e só para quando
enxerga o fundo da nossa alma. Torna-se o ponto de partida para uma corrida
louca das mais variadas atividades sensoriais em nossos corpos. Somos
atravessados sem chance de defesa.
Acontece um
estranho pensamento. É aquilo de te fazer pensar no passado, presente e futuro
ao longo de toda a duração da conexão. Cogitar caminhos, fazer planos em
milésimos e acreditar estar de frente com alguma porta se abrindo. Isso
tudo em apenas um olhar, que não se contenta e escorre.
Desce pelo
rosto e se condensa em sorriso como um movimento natural. Não se sabe com qual
velocidade se abre, mas só o notamos quando ele já está sendo mostrado sem
pudor a todos em volta. Pode ser que, então, os olhos se apequenem nessa hora.
No meio dessa dança, aos poucos, o olhar vai se dissipando. Quando termina,
deixa o produto final de seu encontro: o bem que uma pessoa nos
proporciona. E esse bem fica latente, visível.
Mesmo sem
conseguir explicar, ainda assim tentamos. Repete-se um "não sei"
acompanhado de um "sei lá" e, pra terminar, coloca-se um "foi
diferente". Minha vontade é colocar uma placa de "Bem-vindo ao Mundo
do que não tem tradução".
Ou "aqui
só é permitido sentir".
E o mais
engraçado nisso tudo é que eu mesmo agora acabei de tentar definir com
vocábulos o que senti e sinto toda vez que ela me olha. Mania terrível, mas eu
já sei que todo bem que ela me causa aparece num sorriso. Sorriso esse que
traduz a indescritível sensação de estar exatamente ao lado de quem desperta só
coisas boas em mim. Uma coisa que bateu e até hoje lateja. Assim, simples
assim.
P.s: Texto do autor Gustavo Lacombe
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